CULTURA | Perdidos no tempo, achados no mar. Pares improváveis.

Fotos: Francisco Melim | Texto: Catarina Peixoto

COM FOCO NAS PROBLEMÁTICAS DA SUSTENTABILIDADE E EM QUESTÕES CENTRAIS PARA O NOSSO TEMPO LIGADAS À POLUIÇÃO, A EXPOSIÇÃO INTEGROU A PROGRAMAÇÃO DESENVOLVIDA PELO PROGRAMA NOVA CULTURA.

No dia 24 de setembro, a Praça de Campolide
assistiu à inauguração da exposição “Perdidos no tempo. Achados no mar”, que contou com a presença de Clara Rowland, Pró-Reitora para a Cultura da Universidade NOVA de Lisboa, Bruno Louro, Tesoureiro e Coordenador do Departamento de Cultura da Junta de Freguesia de Campolide, e Ana Pêgo, bióloga e autora.

Esta exposição, que esteve patente até dia 24 de outubro, com entrada livre, teve o apoio financeiro e logístico da Junta de Freguesia de Campolide, do projeto ERC 4-OCEANS, do projeto exploratório DUST (Centro de Humanidades da NOVA FCSH) e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, estabelecendo um diálogo entre a investigação sobre a história dos animais e dos oceanos e o descarte de materiais ao longo das épocas.

Abordando diferentes artefactos contemporâneos da era moderna, e recorrendo ao plástico como material poluente e descartável, que regularmente termina a sua vida útil nos oceanos e praias, a mostra pretendeu questionar o hábito humano milenar de abandono de detritos e as suas consequências ambientais.

O foco nos binómios orgânico e inorgânico, passado e presente, utilidade e desperdício, e nos conceitos de materialidades, permanência e poluição, estabeleceu, por exemplo, uma ligação entre as tartarugas marinhas, em risco de extinção, e os pentes de plástico.

As primeiras, conhecidas pelas suas belas carapaças, que sempre foram objeto de interesse e que, ao longo do tempo, foram usadas como matéria-prima para a produção de diversos artefactos, contrapõem-se aos atuais pentes de plástico acessíveis, mas também mais descartáveis, e que hoje abundam nas praias e oceanos do planeta, quase na medida em que outrora abundavam as tartarugas.

Também o peixe-balão tropical, visto como curiosidade devido à sua forma estranha, é associado aos balões de plástico, hoje objetos do quotidiano, muitas vezes descartados ou perdidos, e que vogam ao sabor do vento e das marés.

Outros binómios improváveis foram estabelecidos entre o marfim branco dos cetáceos e o plástico, ou entre as pérolas, conchas, madrepérola e o coral usados na joalharia, e a bijuteria feita a partir de plástico, que, descartada, se transforma em lixo e em pequenos objetos tóxicos. Foi ainda sublinhada a abundância de microplásticos nos ecossistemas do oceano, que se tornam hoje os grandes vilões, por oposição aos monstros marinhos das histórias e lendas do imaginário popular.

Esta conversa entre imagens, que convidou a pensar de outro modo o problema da conservação dos oceanos, teve também por base o projeto “Plasticus maritimus”, criado por Ana Pêgo, a partir do seu entusiasmo pelo beachcombing, a atividade de colecionar objetos de plástico recolhidos na praia e de investigar as histórias por detrás dos mesmos. A bióloga, no livro que editou com o mesmo nome, reconhece o plástico como a mais recente espécie invasora dos oceanos e, infelizmente, cada vez mais comum.

A exposição teve muita aceitação e cativou a atenção de muitos transeuntes interessados. A parceria entre a JFC e a Universidade NOVA tem já algum tempo e esta foi a segunda exposição feita neste âmbito.

Segundo Bruno Louro, este foi “mais um evento que se enquadra neste tipo de iniciativas que queremos ter, não só o tradicional, mas uma oferta mais diversificada para a população em termos culturais”.

Vivemos num planeta cheio de água, onde os oceanos e os mares compõem 70% do globo terrestre. Vamos cuidar melhor deste coração azul, que tem um papel fulcral no futuro da humanidade!

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