GENTE NOSSA | Ernesto Neves

Fotos: Francisco Melim | Texto: Catarina Peixoto

É MORADOR DESTA ANTIGA VILA OPERÁRIA E ESTÁ MUITO CONTENTE POR SE IR MUDAR PARA UMA NOVA CASA, QUE ESTÁ PRATICAMENTE PRONTA.
SATISFEITO COM A CONSTRUÇÃO, SENTE QUE O SEU NOVO LAR VAI SER MUITO MELHOR E AGRADECE TAMBÉM A OPORTUNIDADE DE REVITALIZAÇÃO DO SPORT LISBOA E AMOREIRAS, O CLUBE DO SEU CORAÇÃO, E AO QUAL CONTINUA LIGADO, COMO PRIMEIRO SECRETÁRIO DA ASSEMBLEIA GERAL.

São oitenta e cinco anos de uma vida repleta de memórias que Ernesto Correia Moreno das Neves guarda consigo, grande parte dela passada ao lado da sua esposa. Hoje, viúvo, com uma filha, um neto e um bisneto, aguarda mudar para a sua nova casa, uma das habitações que faz parte do projeto de recuperação da Vila Romão da Silva. “Aqui moro há sessenta e quatro anos. Nasci no bairro de Campolide, na Rua General Taborda. Depois comecei a namorar com a minha mulher, precisei da casa e a minha vida foi aqui nas Amoreiras.” Como sétimo filho da sua família, foi o único rapaz e aquele que veio “fechar a porta”.

“O meu pai queria um rapaz, só lhe nasciam era raparigas, mas ele era um teimoso e foi assim.” Da sua vida escolar, conta que frequentou a Escola Industrial Machado de Castro, mas “naquela altura, deixei de ir à escola e o meu pai, de castigo, pôs-me a trabalhar”. Esteve nesta instituição de ensino até ao sétimo ano e “trabalhava de dia e estudava à noite.” Mais tarde, tirou o curso de admissão ao liceu e foi para o Instituto Superior Técnico, onde esteve até ao quarto ano. “Depois vim-me embora e fui trabalhar para um stand de automóveis.”

Esteve empregado no comércio de peças automóveis, na Fiat portuguesa, e, mais tarde, foi trabalhar para a J.J. Gonçalves, até à revolução. “Quando chegou o 25 de abril, com aquelas grandes mudanças de casas, de empresas e greves, eu e quatro colegas meus formámos uma empresa e estabelecemo-nos na Póvoa de Santo Adrião.” Nessa empresa de peças para camiões e máquinas agrícolas esteve até vender a sua quota, e rumou para a Doca Pesca, de onde saiu para se aposentar.

Durante toda a sua vida, Ernesto Neves sempre foi muito ligado ao Sport Lisboa e Amoreiras. “Sempre tive amor àquela coletividade.” Sócio da mesma durante sessenta anos, “conheci o Amoreiras quando conheci a minha mulher, praticamente”. Dos tempos áureos do clube recorda com saudades os bailes e as atividades que eram desenvolvidas. “Estava sempre cheio.”

Para além da secção de teatro, do mini ginásio, dos fados, da academia de xadrez e do futebol de salão, o ténis de mesa foi o que teve maior projeção e até produziu várias campeãs. “Era uma coletividade produtiva, uma coletividade a sério.” Das vinte e duas coletividades existentes à data em Campolide, foi ao Sport Lisboa e Amoreiras que se dedicou, passando por vários cargos.

“Fui presidente, vice-presidente, primeiro secretário, estive na assembleia geral, corri vários lugares…” Embora, nos últimos tempos, o clube tenha passado por um período menos prolífero, tudo se está a encaminhar para uma nova fase, devido, essencialmente, às obras de requalificação do pátio, que incluem a remodelação da sede. Atualmente, Ernesto Neves está novamente determinado a levantar a coletividade, que criou novos estatutos e uma nova direção. “Estamos a avançar há um ano, vamos tentar recuperar o Amoreiras!”

Da vida na Vila Romão da Silva também conta que hoje em dia é muito diferente do que era antes. “Isto, antigamente, era uma família.” Quase a mudar de casa, vai realojar-se num novo apartamento na parte da frente da vila, apenas com um quarto. “Para mim chega, não faço tenções de casar outra vez, ninguém me quer com oitenta e cinco anos!” diz, com jovialidade.

Já começou a mudar alguns dos seus móveis e agora só lhe falta comprar uma cama nova. É com grande alegria que vê a construção quase concluída e diz que “estas obras já haviam de ter começado há muito anos atrás”. Desejamos as maiores felicidades ao Sr. Ernesto Neves e que saboreie com muita alegria o seu novo lar!

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